Revolução da Cabanagem - Carimbos do Pará

por: Enio Garletti

Cabanagem

Revolução ocasionada por motivos políticos, econômicos e sociais, que ocorreu na Província do Grão- Pará entre os anos de 1835 e 1840. Foi uma, entre as várias revoluções, que aconteceram no Período Regencial do Império, em diversas regiões do Brasil.

Causas Políticas

D. Pedro I após sua abdicação em 7 de abril de 1831, deixou como herdeiro ao trono Império foi exercido pelas Regências, que neste período se conduziram com absolutismo, nomeando para Presidente das Províncias e outros cargos importantes, pessoas alheias aos costumes locais e não sempre queridas pelos que seriam governados. Estas questões exacerbaram os ideais de autonomia de várias províncias, principalmente as localizadas mais distantes da corte do Rio de Janeiro.

Causas Econômicas

Durante o período Colonial os monopólios comerciais eram privilégios que estavam sempre nas mãos dos reinóis (portugueses natos), que nestas condições oprimiam os naturais filhos da terra, mantendo-os em total dependência e miséria. Embora o Brasil já estivesse independente de Portugal, essa situação permanecia e humilhava os brasileiros.

Causas Sociais

Eram enormes as diferenças das condições econômicas e sociais entre os estrangeiros, assim chamados os reinóis, e os CABANOS, como eram denominados os brasileiros natos da região, e moradores em cabanas localizadas nas periferias das cidades, ou palafitas erguidas nas margens dos rios. Daí o nome de CABANAGEM à revolta dos Cabanos.

Foi uma revolução que teve início por motivos de autonomia política e maior liberdade da província, baseados nos ideais republicanos e inspirados nos princípios da Revolução Francesa e na Independência e Constituição dos Estados Unidos da América. Porém, terminou numa revolução por mudanças nas condições sociais e econômicas dos pobres, escravos e oprimidos, na qual vislumbraram um sonho de liberdade e independência na qual achavam que era chegada a hora da vingança contra os ricos gananciosos e poderosos opressores. As guerras e as revoluções nós sabemos como começa, mas nunca sabemos como terminará.

O grande desenlance da Revolução da Cabanagem se deu quando o governador da Província do Grão Pará - Bernardo Souza Lobo - reinol opressor e absolutista, por divergências de artigos publicados no jornal, “O PARAENSE”, criou incidentes e ameaçou de prisão contra o cônego Batista Campos, que era um religioso muito respeitado, protetor e querido pelo povo desafortunado tanto da capital como do interior. E assim estava declarada a luta entre os dois grupos antagonistas - governo legal, porém rico e opressor contra os Cabanos pobres e oprimidos.

Os Cabanos, ANTONIO CLEMENTE MALCHER, FRANCISCO PEDRO VINAGRE e EDUARDO ANGELIM, lideraram os grupos revolucionários que após combates invadiram e tomaram o Palácio do Governo. E na sequência fuzilaram o governador Lobo de Souza no dia 7 de janeiro de 1835, data que marca o início de revolução Cabanagem. As ruas da cidade de Belém foram tomadas pelos revoltosos que em ato de vingança contra os reinóis mataram os partidários do governo e promoveram saques no comércio local.

ANTONIO CLEMENTE MALCHER, foi empossado como Presidente da Província pela nova junta administrativa da cidade. Necessitando de numerário para pagamento de despesas administrativas e para acalmar os revoltos que prometeram não sair da cidade enquanto não recebessem os soldos atrasados, ordenou através de bando do dia 14 de janeiro que se utilizassem para pagamento o único recurso disponível na tesouraria que eram as moedas de cobre já recolhidas pela lei de 1833 para o TROCO DO COBRE.

Determinou que as moedas de cobre emitidas pela Casa da Moeda de Cuiabá, fossem postas novamente em circulação por 1/4 do seu valor nominal e carimbadas com estes novos valores, de acordo com seu valor intrínseco (valor real do metal cobre contido na moeda), na razão de 600 a 700 réis por libra peso de cobre. Foram carimbadas por engano, também algumas moedas da Casa da Moeda de Goiás, pois eram do mesmo diâmetro e peso, sendo a única diferença as letras C e G colocadas após a data. Detalhe de difícil observação a um olhar pouco atento. E quem carimbava as moedas, provavelmente, era alguma pessoa humilde e de pouca instrução para atentar a este detalhe.

O Cálculo seguinte explica o critério dos valores carimbados nas moedas:

Metal cobre cotado entre 600 e 700 réis, média 650 réis para uma libra peso do metal. Uma libra peso contém 128 oitavas. Dividindo-se 650 réis por 128 oitavas, teremos o preço de 5,08 réis por cada oitava. Cada oitava equivale a 3,5859 gramas.

Carimbos de Antonio Clemente Malcher - Moedas de Cuiabá, e algumas de Goiás

40 Réis = (7,17 gr.) = 2 oitavas X 5,08 Réis = 10,16 Réis = Carimbo de 10 (40/10)

80 Réis = (14,34 gr.) = 4 oitavas X 5,08 Réis = 20,32 Réis = Carimbo de 20 (80/20)

Por causa dos distúrbios nas ruas de Belém e surgindo divergências de comportamento entre os cabanos, os adeptos de Malcher e Vinagre, entraram em luta entre si, cujos combates resultaram na morte de vários elementos de ambas as facções. A refrega teve por vencendor o grupo de Vinagre que em seguida resgatou Malcher que tinha se refugiado em um navio atracado, e sendo levado para a cidade, foi assassinado pelos seus ex-companheiros.

FRANCISCO PEDRO VINAGRE, vencedor, auto proclamou-se Presidente da Província em 2 de março de 1835 - e declarou que a Província do Grão Pará deixava de integrar o Império do Brasil até ser proclamada a maioridade de D. Pedro II, pois discordava de como a Regência governava o país e que a mesma tinha toda responsabilidade pela situação de infortúnio que acontecia na Província desde 1831.

Vinagre, também teve as mesmas condições adversas na condução das finanças, e seguiu a conduta de seu antecessor, ordenando agora que fossem postas em circulação moedas de cobre recolhidas na tesouraria. Não havendo mais moedas Cuiabanas lançou mão das moedas Serrilhadas emitidas pelas Casas de Moeda do Rio e Bahia e moedas coloniais.

Nesta nova carimbagem se acompanhou os mesmos cálculos de 600 a 700 réis por uma libra peso de cobre. Com o preço de 5,08 réis por oitava de cobre.

Carimbos de Francisco Pedro Vinagre - Moedas do Rio, Bahia e Coloniais

Colonial X = 2 oitavas (7,17 gr.), João R e VI - XX = 2 oitavas (7,17 gr.), Império 20 Réis = 2 oitavas (7,17 gr.) - todas 2 oitavas X 5,08 Réis = 10,16 Réis = Carimbo de 10.

Colonial XX = 4 oitavas (14,34 gr.), D. João R e VI - XL = 4 oitavas (14,34 gr.), Império 40 Réis = 4 oitavas (14,34 gr.) - todas 4 oitavas X 5,08 Réis = 20,32 Réis = Carimbo de 20.

Colonial XL = 8 oitavas = 1 onça (28,68 gr.), D. João R e VI - LXXX = 8 oitavas (28,68 gr.), Império 80 Réis = 8 oitavas (28,68 gr.) - todas 8 oitavas X 5,08 Réis = 40,64 Réis = Carimbo de 40.

Os Carimbos apostos nas moedas eram de cunhagem rústica, unifacial, em fundo liso, sem orla e com algarismos arábicos. Alguns apresentam o número UM parecido ao formato de algarismo romano. Foi uma carimbagem ilegal, porém, mais tarde tolerada pelas autoridades.

A revolução dos cabanos sob o governo de Vinagre, não teve vida longa. A Regência nomeou oficialmente novo presidente para a Província e Vinagre logo terminou por entender-se com as novas autoridades do sistema imperial e firmou uma trégua, retirando-se para o interior da Amazônia.

Os Cabanos aclamaram, como novo líder, EDUARDO ANGELIM, jovem e corajoso, porém, não tinha a mesma liderança dos antecessores, e as lutas pareciam reacender. A Regência Imperial nomeou um novo Presidente na pessoa do Brigadeiro JOSÉ SOUZA SOARES DE ANDRÉA, com poderes especiais para por fim a revolução, que em 13 de maio de 1836 ocupou a cidade de Belém, expulsando os rebeldes. Os revoltosos cabanos remanescentes retiram-se para o interior da Amazônia e durante anos seguidos deram muito trabalho às autoridades constituídas, até que em 25 de março de 1840 o último grupo rebelde totalizando 980 homens rendeu-se e, estabeleceu-se a paz na região. Ao final calcula-se que 30.000 pessoas de ambos os lados tenham perdido a vida nesta revolução.

Referências Bibliográficas:

REIS, Arthur Cezar Ferreira. Síntese de História do Pará. Amazônia Edições Culturais Ltda. 1972.

PROBER, Kurt. Moeda de Necessidade “Carimbo Pará”. Rio de Janeiro, 1939.

PROBER, Kurt. Catálogo das Moedas Brasileiras de Cobre. 1957.

RODRIGUES JR. Osvaldo Martins, RIBEIRO, Marcelo Cavalcanti, LACERDA, Cristiane Sudário. Carimbos e Contramarcas do Cobre Brasileiro - Carimbos do Pará. Trabalho apresentado em Santos em 20 de março de 1988.

CAFARELLI, Eugênio Vergara. As Moedas do Brasil. 1992.

Revolução da Cabanagem - Carimbos do Pará.

Artigo de autoria do Dr Enio Garletti , foi publicado pela Sociedade Numismática Paranaense - Edição nº 54, julho 2013.

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Aproveito para indicar os livro do Dr Enio Garletti, para os amigos que pretendem se aprofunda no estudo sobre as moedas de cobre.

• Moedas de Cobre do Brasil – Volume I - Enio Garletti e Rogério Bertapeli

• Moedas de Cobre do Brasil – Volume I I- Enio Garletti e Rogério Bertapeli

• Catalogo das coroas de cobre - Enio Garletti




 



Um fraternal abraço 
Rudi De Antoni

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