A Amante na cédula de de 2 mil-réis


Em  meados dos anos de 1899 insatisfação geral com a política econômica do governo estava presente em discursos na tribuna do Congresso e nas páginas dos principais jornais do Brasil.

A indignação deu origem a uma notícia que acusava-se o ministro Joaquim Murtinho de reproduzir o retrato de sua amante nas cédulas de 2 mil réis impressas em 1899.

A acusação na Câmara dos Deputados

 Na sessão de 6 de setembro de 1900, o Deputado sergipano Fausto Cardoso, inimigo político declarado do Ministro Murtinho declarado relatou:
“Isto não se fez, nem se pode fazer, porque aqui está uma nota em que figura uma das meretrizes mais conhecidas na Capital Federal: Sra. Prates. (o orador mostra uma nota do Tesouro, na qual diz estar estampado este retrato.).
Quem poderá negar que esta figura que aqui esta não é dessa mulher tão conhecida?
Mas, dirão: “não deveis dizer, deveis poupar uma vergonha à nossa pátria.”.
O Sr. Benedicto de Souza – Mas V.Ex. pode garantir que foi o Sr. Ministro que a mandou estampar ai?”

Até mesmo Rui Barbosa teria entrado na discussão, afirmando "ser autêntico o ignóbil corpo de delito" acrescentando não haver nada na efígie daquela mulher que não nomeasse uma rainha do mundo obsceno.

Jornal do comercio

Um jornalista do Jornal do Commercio, que assinava suas matérias com as iniciais "J.L" publicou o seguinte:

O jornalista assinalou que, logo depois de ter entrado em circulação a nova cédula, levantou-se uma enorme onda de indignação que, do Rio de Janeiro, se irradiou para o restante do país, com a condenação daquele abuso de poder. A efígie seria de uma pessoa a quem Murtinho "prodigalizava os seus favores em troca daqueles que a dama não lhe regateava.

Quem confeccionou a cédula.

 ABNCo. forneceu cédulas para o Brasil de 1857 a 1966 por 109 anos, uma relação mais do que centenária.
Na concepção das cédulas, a empresa utilizava, com freqüência, dos motivos desenvolvidos por seus gravadores em mais de uma cédula e para países diferentes.
E foi este o caso de nossa cédula de 2000 réis de 1900.

Quem foi o responsável pela gravura da efígie feminina na cédula?

O gravador Sukeichi Oyama (1858-1922)
Sukeichi Oyama nasceu em Shimo-arada (distrito de Kagoschima), no Japão.
Em 1891 foi para os Estados Unidos onde foi contratado pela ABNCo. (localizada nesta época na Trinity Place no distrito financeiro de Manhatan) como gravador.
 Durante o período de 1891 a 1899 trabalhou como gravador na ABNCo.
 Em 1900 ele retorna ao Departamento de Impressão do Japão, onde ele gravou, entre outros, o retrato de Katamari Fujiwara, para a cédula de 100 yen.
 Ele chegou a chefe daquele departamento e foi um dos introdutores do estilo Ocidental no Japão. Morreu em 1922.
A gravura feminina denominada por ele com Zella , foi feita por Sukeichi Oyama  em  12/1893, quando trabalhou como gravador na ABNCo,segundo ele próprio foi inspirada no quadro  retrato "Saudade" de Conrad Kiese.
A gravura "Zella", foi utilizada pelo menos durante cinco datas e quatro países diferentes, são eles:

 

20 dólares de 1897 do Bank of Nova Scotia (Província da Nova Escócia – Canadá).


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20 pesos de 1898 do El Banco de Concepción (Chile).


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 100 pesos de 1898 do El Banco de Coahuila (México).


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2 mil-réis de 1900, 9ª estampa do Tesouro Nacional (Brasil)

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2 mil-réis de 1918,  11ª estampa do Tesouro Nacional (Brasil)



Então diante dos fatos só me resta acreditar que o Ministro Murtinho foi vitima do que chamamos hoje de Fake News.

Um fraternal abraço a todos 

Rudi De Antoni.:


Fonte:

Blog Sterling Numismática

http://sterlingnumismatic.blogspot.com/2012/05/

Catálogo de cédulas banco Santander

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