As Oficinas das Casas da Moeda



 No início do século XIX, as casas da moeda no Brasil cunhavam moedas utilizando-se de balancins.

O balancim era uma espécie de prensa, também chamada de “engenho de cunhar”, na qual eram encaixados os cunhos contendo as imagens do anverso (cara ou face da moeda em que aparece a efígie ou emblema) e do reverso (coroa ou face oposta da moeda). As faces das moedas eram esculpidas, uma em cada cunho, de forma espelhada. Uma chapa de metal, já cortada em forma de círculo, era colocada entre os cunhos.

Os braços do balancim eram então girados o que fazia com que um cunho fosse pressionado contra o outro. Desta forma, imprimia-se o anverso e reverso da moeda na chapa circular de metal. Moedas de ouro e prata podiam, ainda, receber nas bordas uma serrilha para que se evitasse o seu cerceamento100.

Moedas de cobre também poderiam receber serrilhas, mas para que se dificultasse sua falsificação. A partir de 1823 passaram a circular novas moedas de cobre que em lugar de algarismos romanos traziam algarismos arábicos.

Além disso, estas novas moedas apresentavam em seu anverso as recém-criadas armas do Império Brasileiro e serrilhas nas bordas.

Deve-se ressaltar que, estas moedas de novo cunho ou “modernas” não substituíram as antigas moedas, mas se somaram a estas no meio circulante.

Para dar conta do processo produtivo de moedas metálicas, as casas da moeda eram divididas em várias oficinas com funções específicas e complementares.

A Casa da Moeda da Bahia, por exemplo, era composta por seis oficinas: oficina da fundição, do ensaio, das fieiras, da serrilharia, da abrição e, finalmente, oficina do cunho.

O historiador e numismata Renato Berbert de Castro explica da seguinte forma as funções das diversas oficinas às quais fiz referência:

• Oficina da abrição – destinada a abrir os cunhos, punções, carimbos e outras peças da mesma natureza.

É a oficina mais importante de qualquer Casa da Moeda, porque exige que o abridor tenha talento artístico para produzir perfeitos e belos cunhos, o que determinará a perfeição e beleza das moedas com eles cunhadas.

• Oficina do Cunho – destinada a cunhar as moedas, com os cunhos preparados pelo abridor, e sobre os discos de metal entregues pela Oficina das Fieiras.

• Oficina do Ensaio – destinada à afinação preparatória dos metais que vão ser transformados em discos, poderia ser chamada de Oficina da Afinação, como aconteceu na Casa da Moeda do Rio de Janeiro.

• Oficina das Fieiras – destinada a laminar, cortar, limar e branquear os metais que devem ser cunhados.

• Oficina da Fundição – destinada a fundir os metais que entram na Casa da Moeda, quer em barra, quer em objetos, quer em moedas.

• Oficina da Serrilharia – destinada a pôr serrilha nas moedas. Também denominada de Oficina da Serralharia, porque a serrilha tem o sinônimo de serralha.

Os cunhos representavam o âmago de uma oficina de cunhagem. Eram, em geral, peças de ferro. Isso fazia com que fossem conhecidos comumente como “ferros”.

Havia a necessidade de que os cunhos fossem produzidos com metal mais rígido, para possibilitar a impressão nas chapinhas de ouro, prata ou cobre, metais mais maleáveis, e resistir a repetidas cunhagens.

As imagens do anverso e do reverso eram gravadas manualmente nas peças de metal. O artesão, com o “ferro” preso a um torno, “abria o cunho”, ou seja, esculpia a imagem espelhada do anverso ou do reverso da moeda manualmente com a ajuda de ferramentas apropriadas à gravação em metal.

O procedimento exigia força, qualificação e, como disse Castro, talento artístico do artesão. A qualidade dos cunhos e, consequentemente, das moedas dependia da perícia do abridor.

Quando foi fechada em 1830, a Oficina da Abrição da Casa da Moeda da Bahia contava com três abridores, todos com mais de 10 anos de experiência, sendo Antônio Fructuozo Pessoa da Silva, 1º Abridor dos Cunhos, o mais antigo com 22 anos de serviço.

Mesmo que as casas da moeda contassem com profissionais experientes como era o caso da Bahia, os cunhos acabavam apresentando diferenças entre si. Isto ocorria por serem feitos de forma artesanal. Eram diferenças quanto ao número de pérolas que circundava os algarismos, ao posicionamento das letras, ao formato da coroa etc. Isso acabou gerando uma grande quantidade de variantes, que fazem a alegria dos colecionadores desta forma de colecionismo Numismático.

Um fraternal abraço a todos.

Rudi de Antoni.:

Fonte;

O DERRAME DE MOEDAS FALSAS DE COBRE NA BAHIA- Alexander Trenttin- Monografia Universidade Federal da Bahia

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas

Programa de Gós-graduação em História

(1823-1829)


 

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