Linha do tempo do papel-moeda no Brasil
1771- O primeiro papel-moeda do Brasil
Os bilhetes de extração dos diamantes foram o primeiro tipo
de papel moeda do Brasil. Criados em 1771, serviam para financiar atividades
mineradoras no Tejuco do Serro Frio – hoje a cidade de Diamantina (MG) – e eram
executados pela Casa da Administração Geral dos Diamantes. Em forma de recibos
de custódia de ouro, os bilhetes circulavam como moeda em Minas Gerais e podiam
ser usados no pagamento de tributos.
1808 - A transferência da família real
Quando a família real chegou ao Brasil, o Rio de Janeiro
virou sede do Estado Imperial Português. No entanto, adaptar uma cidade
colonial às necessidades da realeza não era fácil – nem barato –, exigindo
grandes investimentos financiados, em grande parte, pela emissão de moeda.
O primeiro (de muitos) Banco do Brasil
Uma das soluções encontradas para financiar a instalação da
Corte no Rio de Janeiro foi a criação de um banco emissor. Assim nasceu o Banco
do Brasil, primeiro instalado em terras portuguesas, autorizado a emitir
bilhetes com poder liberatório de moeda.
Um bilhete que valia ouro (em pó)
O príncipe regente D. João VI autorizou a impressão de
bilhetes para o pagamento do ouro que era remetido às Reais Casas de Fundição
do Ouro. Eles tinham valores de 1, 2, 4, 8, 12 e 16 vinténs de ouro – o que
correspondia, respectivamente, a 37 ½, 75, 300, 450 e 600 réis.
1810 - Banco do
Brasil: a 1ª emissão
Os bilhetes do Banco
do Brasil foram colocados em circulação um pouco depois dos bilhetes de
permuta. Eles seguiam o padrão de impressão das notas do Banco da Inglaterra e
tinham um corte angular do lado esquerdo, usado para conferir a autenticidade
junto ao canhoto.
Levantamento de moeda
D. João VI promoveu o “levantamento” da moeda de cobre,
dobrando o valor de face dessas peças. A medida acabou facilitando a ação de
falsificadores, que cunhavam suas próprias moedas e causavam prejuízo ao
Tesouro Nacional
1822 - Brasil independente
A Independência do
Brasil aumentou ainda mais o endividamento do Estado, resultando em maiores
emissões de moeda.
1826 - Derrame do cobre falso
Nem bem o Brasil conquistara sua independência e já tinha
que lidar com um escândalo causado por moedas falsas. O episódio, que ficou
conhecido como “o derrame do cobre falso”, foi especialmente grave na província
da Bahia, onde se estimava que dois terços das moedas em circulação fossem
falsas.
1828 - Cédulas para coibir a falsicação
Desde o ano anterior, o Império buscava coibir a circulação
de moedas falsas na Bahia, ordenando que a tesouraria provincial deixasse de
recebê-las no pagamento de tributos. Porém, um violento levante em Salvador
obrigou o governo a tomar medidas drásticas: recolher todas as moedas de cobre
da província e substituí-las por papéis do tesouro, denominados cédulas.
Mais uma emissão
O Banco do Brasil fez uma segunda emissão de bilhetes, desta
vez de pequeno valor, para atender à necessidade de troco dos bilhetes de maior
valor – frutos da emissão anterior. Essa segunda iniciativa coincidiu com o
período em que os bilhetes do banco sofreram uma pesada desvalorização, não
sendo mais aceitos pelo público senão com grande depreciação.
1829 - Liquidação do Banco do Brasil: a 3ª emissão
O Banco do Brasil teve de ser liquidado em 23 de setembro de
1829 e governo imperial se viu na obrigação de assumir a responsabilidade sobre
o pagamento dos bilhetes. Em meio à liquidação, o banco ainda seria autorizado
a fazer uma terceira emissão de bilhetes para retirar os bilhetes antigos da
circulação.
1831 - Adeus a D. Pedro I
Em 7 de abril, o imperador D. Pedro I abdicou ao trono do
Brasil, deixando como sucessor o filho D. Pedro de Alcântara, que tinha apenas
cinco anos. Foi o começo de um dos períodos mais conturbados – mas também
decisivos – do Império, o período regencial, que seguiu até 1940 e estabeleceu
definitivamente a circulação monetária sob a forma de papel no Brasil.
1833 - Primeira reforma fi¬nanceira do Brasil
Mesmo emancipado de
Portugal, o Brasil ainda seguia o sistema monetário lusitano. A primeira
reforma aconteceu em 1833, quando o padrão mil-réis foi desvalorizado perante o
ouro. A moeda de cobre, pelo contrário, foi valorizada para coibir a
falsificação, utilizando-se um carimbo para reduzir o seu valor de face à
metade.
Acabar com as moedas de cobre
Para retirar de vez as moedas falsas da circulação e
carimbar as legítimas com os novos valores, o governo decidiu ampliar para
todas as províncias o resgate da moeda de cobre, substituindo-as por cédulas.
Como o número de cédulas foi insuficiente para resgatar todo o cobre em
circulação no Brasil, as tesourarias provinciais foram autorizadas a emitir
“conhecimentos de cédulas”. Eles também circulavam como meio de pagamento, mas
eram uma espécie de certificado de custódia que conferia ao portador o direito
de receber cédulas no futuro.
O degredo em Fernando de Noronha
A Lei nº 52, de 3 de outubro de 1833, serviu como desfecho
para o escândalo de falsificação de moedas. Em seu artigo 8º, indicava que
fabricantes e introdutores de peças falsas seriam “punidos pela primeira vez
com a pena de galés para a ilha de Fernando de Noronha, pelo duplo do tempo de
prisão que no Código Criminal está designada para cada um destes crimes; e nas
reincidências serão punidos com galés perpétuas para a mesma ilha, além do
dobro da multa”.
1835 - Emissões do Tesouro Nacional
A reforma monetária iniciada em 1833 foi concluída apenas em
1835, quando o Tesouro Nacional assumiu definitivamente a responsabilidade
sobre o papel-moeda brasileiro. Todos os papéis que estavam em circulação –
bilhetes de permuta do ouro em pó, bilhetes do Banco do Brasil, cédulas e
conhecimentos de cédulas das tesourarias provinciais – foram substituídos pelas
notas que o Tesouro Nacional encomendou na Inglaterra.
1840 - Centralização no Rio de Janeiro
Em 23 de julho de 1840, o senado declarou a maioridade do
infante Pedro de Alcântara. No ano seguinte, aos 14 anos, D. Pedro II foi
coroado imperador. Os anos que se seguiram foram marcados por intensas
transformações na economia brasileira, uma das mais importantes foi a expansão
da cafeicultura no Vale do Paraíba. Na medida em que enriquecia os comerciantes
instalados na corte, o café consolidava o Rio de Janeiro como centro financeiro
do Império ao mesmo tempo em que a coroação de D. Pedro II fizera daquela
cidade o centro das disputas políticas.
1853 - Mais um Banco do Brasil
Em 1853 nascia o terceiro Banco do Brasil, com monopólio das
emissões bancárias em todo o território do Império, com sede no Rio de Janeiro.
A instituição originou-se da fusão dos dois maiores bancos do período: o também
chamado Banco do Brasil – segundo com esse nome, organizado em 1851 pelo Barão
de Mauá – e o Banco Comercial do Rio de Janeiro.
1856 - Primeiras impressões da American Bank Note
Os primeiros bilhetes deste terceiro Banco do Brasil foram
impressos pela Casa da Moeda do Rio de Janeiro. Posteriormente, o banco
encomendou estampas unifaciais, ao estilo daquelas utilizadas pelo Tesouro. Da
companhia estadunidense American Bank Note, pediu também a impressão de novos
padrões de estampa, bifaciais, que combinavam as técnicas de calcografia e
litografia com cores mais vivas.
Caixas ¬liais do Banco do Brasil
O Banco do Brasil de 1853 foi o primeiro banco brasileiro
com dimensões verdadeiramente nacionais, com matriz no Rio de Janeiro e filiais
nas províncias de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul, Maranhão,
Pará e Pernambuco. A centralização era importante para o projeto do Partido
Conservador, interessado em aumentar a influência financeira do Rio de Janeiro
sobre as províncias.
1857 - Reforma pela descentralização
Com a ascensão do liberal Bernardo de Souza Franco ao
Ministério da Fazenda, foi realizada uma reforma bancária que descentralizou as
emissões de bilhetes. Seis novos bancos foram autorizados a emitir bilhetes nas
províncias, concorrendo diretamente com o Banco do Brasil. Entretanto, naquele
mesmo ano, uma crise financeira atingiu as principais praças do Império. Embora
a crise tivesse origens externas, desencadeada pelo fim da Guerra da Crimeia,
os conservadores acusavam o excesso de papel-moeda em circulação pela queda no
câmbio.
1859 - Contrarreforma pela centralização
Após a queda do ministro Souza Franco, impulsionada pela
crise financeira de 1857, os conservadores voltaram ao poder e realizaram uma
contrarreforma financeira. Os bancos provinciais deveriam resgatar os bilhetes
emitidos ou pagar uma taxa de mil réis por nota, o que inviabilizaria a
manutenção das emissões. Os bancos da Bahia e da Província do Rio Grande do Sul
desistiram do direito de emissão e foram transformados em bancos comerciais, os
demais fizeram acordo com o Banco do Brasil e foram transformados em caixas
filiais deste último.
1866 - Guerra do Paraguai
A Guerra do Paraguai (1864-1870) abalou as finanças do
Império do Brasil, impondo um regime fiduciário sobre a circulação monetária.
Nele, as notas do Tesouro substituíram os bilhetes conversíveis em ouro do
Banco do Brasil.
1874 - A nota de menor valor
Desde quando o
papel-moeda começou a circular no Brasil, a emissão de notas de baixo valor era
restringida – afinal, elas passavam de mão em mão muito rápido e, por isso,
eram tidas como inflacionárias. A primeira delas foi a de 500 réis, impressa
pela American Bank Note.
1888 - A última reforma do Império
Já no final da
década, a discussão sobre bilhetes bancários voltou à pauta quando a expansão
das exportações de café e a elevação do câmbio permitiram convertê-los em ouro.
Em 1888, o então ministro da Fazenda, Visconde de Ouro Preto, autorizou a
emissão de bilhetes para substituir as notas do Tesouro Nacional. Os bilhetes
dos novos bancos emissores eram fornecidos pela Caixa de Amortização em notas
da 5ª estampa do Tesouro Nacional, alteradas pela tipografia Laemmert &
Cia., do Rio de Janeiro.
Fracasso em Ouro Preto
Em 1888, o câmbio chegara a seu patamar mais alto desde
1846. No ano seguinte, quando começou a recuar, dificultou que os bancos
pagassem bilhetes em ouro. Isso fez com que o Banco Nacional do Brasil e o
Banco de São Paulo corressem para recolher os bilhetes que haviam colocado em
circulação, enquanto o Banco do Comércio do Rio de Janeiro nem chegou a
distribuir os seus. Era o fim de mais uma tentativa fracassada de estabelecer
uma circulação bancária plenamente conversível em ouro.
1889 - Sai o Império, entra a República
Com a Proclamação da República, era preciso que o
papel-moeda refletisse as mudanças políticas. Foi assim que, sob
responsabilidade do Tesouro Nacional, as notas antigas foram tiradas de
circulação e substituídas por novas impressões nas quais os símbolos imperiais
deram espaço a brasões e alegorias da República.
1890 - A reforma de Rui Barbosa
Primeiro ministro da
Fazenda da República, Rui Barbosa se deu conta de que era impraticável exigir
que os bancos pagassem em ouro os bilhetes apresentados ao caixa. Por isso,
admitiu uma flexibilização dessa regra, argumentando que a abolição da
escravatura, em 1888, exigia a multiplicação do meio circulante. A reforma foi
aprovada em janeiro de 1890, dividindo o Brasil em regiões monetárias onde a
circulação ficou a cargo de bancos. Os seus bilhetes eram resgatáveis em ouro
apenas quando o câmbio fosse favorável – ou seja, na prática, eram
inconversíveis.
1891 - Crescimento da especulação
Ao mesmo tempo que a
reforma bancária ampliou a oferta de crédito, uma reforma legislativa sobre
sociedades anônimas facilitou a incorporação de companhias. Elas podiam até
emitir debêntures e letras hipotecárias – duas modalidades de títulos
mobiliários que tinham a emissão controlada no Império em razão do medo de
serem usadas como meio de pagamento, desorganizando o meio circulante.
Do encilhamento à crise
As reformas monetária, bancária e legislativa, aliadas ao
crescimento das exportações nos anos anteriores, impulsionaram o surgimento de
novas companhias. Muitas queriam atrair compradores para suas ações, mas, mesmo
prometendo altos rendimentos, não eram viáveis. Os papéis se multiplicaram no
mercado de ações, e o clima de euforia foi chamado de “encilhamento”, gíria
para se referir ao momento que antecede a largada dos cavalos em uma corrida. A
bolha estourou em meados de 1891, gerando descontentamento com o mercado de
ações.
1893 - Banco da República do Brasil
A crise do encilhamento fez com que o Governo Federal
restringisse as emissões bancárias ainda em 1892, e o excesso de papel-moeda
foi apontado como um fator determinante para agravar o problema. Para aumentar
o controle, o monopólio de emissões foi concedido ao Banco da República do
Brasil, nascido da fusão do Banco da República dos Estados Unidos do Brasil com
o Banco do Brasil.
1893 - Emissões abusivas e ilegais
Depois de anos de expansão monetária, as restrições acabaram
incentivando uma prática antiga: a emissão de moedas por indivíduos e
comerciantes. Elas recebiam os mais diversos nomes, como vales, obrigações,
cautelas e livranças. Havia também os apelidos locais, como as ficas de
Alagoas, os borós do Ceará, os borrusques de Minas Gerais e os calcários,
sampaios e haja-paus de Pernambuco.
Falsa, mas ofi¬cial
Os poderes municipais e estaduais aproveitaram para fazer
suas próprias emissões. Apesar de consideradas ilegais pelo Governo Federal,
era difícil combatê-las, já que a Constituição de 1891 concedera liberdade a
estados e municípios para contraírem dívidas, inclusive sob a forma de títulos
ao portador. Os defensores argumentavam que esses pedaços da dívida pública
entravam em circulação em razão da escassez de moedas de níquel e de notas de
pequeno valor para troco no comércio.
Praga dos vales
Apelidado de “praga dos vales”, o problema foi discutido na
Câmara dos Deputados. As apólices de estados e municípios e debêntures emitidas
por companhias e particulares, apesar de simularem captações de crédito, eram
colocadas em circulação como moedas sem fazer referência aos juros cobrados,
além de serem impressas em pequenos valores e em formato de bilhetes de banco.
1898 - Queimando dinheiro
O governo Campos Sales inaugurou seu primeiro ano no poder com
uma medida drástica: queimando papel moeda. O objetivo era contrair o meio
circulante, e a ação dividiu opiniões. Enquanto muitos a viram como uma solução
aos excessos cometidos entre 1890 e 1892, outros criticaram duramente o governo
e o ministro da Fazenda, Joaquim Murtinho, por causa da grande retração
causada.
1899 - Fake news de 2 mil-réis A insatisfação geral com a
política econômica do governo estava presente em discursos na tribuna do
Congresso e nas páginas dos principais jornais do Brasil. A indignação deu
origem a uma fake news: acusava-se o ministro Joaquim Murtinho de reproduzir o
retrato de sua amante nas cédulas de 2 mil réis impressas em 1899. A estampa,
contudo, era obra do artista austríaco Theodor Kiesel.
1906 - Caixa de Conversão
A retração econômica
regredia desde 1904, com o afluxo de capital estrangeiro e a elevação dos
preços do café. Dois anos depois, a criação de um plano de valorização
contribuiu para esse processo. Ele incluía a estabilização do câmbio e da moeda
com a criação da Caixa de Conversão, que tinha como finalidade centralizar
operações cambiais, atrelando a emissão monetária ao afluxo de divisas
estrangeiras. Na prática, recebia depósitos em barras de ouro ou em moedas
estrangeiras, emitindo suas próprias notas sobre essas reservas.
1914 - A 1ª Guerra Mundial e o fi¬m da estabilidade
A eclosão da 1ª Guerra Mundial provocou a retirada de
divisas da Caixa de Conversão, obrigando-a a suspender suas emissões e
encerrando um dos raros períodos em que o Brasil experimentou expansão de
crédito com estabilidade cambial. Embora a Caixa de Conversão tenha finalizado
operações em 1914, suas notas seguiram circulando até 1931, quando foram
resgatadas e substituídas pelas do Tesouro Nacional.
1923 - Retorno das emissões do Banco do Brasil
O direito de emissão voltou ao Banco do Brasil, mas com uma
ressalva: as notas seriam conversíveis em ouro apenas quando o câmbio estivesse
estável. Como já ocorrera no passado, essa condição tornava a conversibilidade
ilusória, gerando aumento da inflação e desequilíbrio cambial. Apesar dos
percalços, o período também foi marcado pelo crescimento urbano e o avanço do
processo de industrialização.
1924 - Notas de uma revolução esquecida
Em 5 de julho, Miguel Costa e Isidoro Dias Lopes – respectivamente
major da Força Pública e general da reserva do Exército – lideraram um levante
militar na cidade de São Paulo. Chamada de “revolução esquecida”, a ação se
opunha ao Governo Federal. Os líderes chegaram a tomar a cidade, sendo
obrigados por forças legalistas do exército a recuarem para o Sul do país, onde
se uniram às tropas de Luiz Carlos Prestes. Deu-se assim a formação da Coluna
Prestes, um dos principais movimentos de contestação da Primeira República e
precursora da Revolução de 1930.
1926 - O plano de estabilização de Washington Luís
Washington Luís assumiu a presidência da República sob a
promessa de estabilizar a moeda e o câmbio. O plano previa a substituição do
real, – ou, como era mais conhecido, o mil-réis – por uma nova moeda, denominada
cruzeiro. A reforma deveria ser executada após um período de transição, no qual
o câmbio seria fixado pela Caixa de Estabilização, órgão responsável por
imprimir e recolher notas conversíveis em ouro.
1927 - Notas da Caixa de Estabilização
As notas da Caixa de
Estabilização começaram a circular usando inicialmente apenas as notas das 16ª
e 17ª estampas do Tesouro Nacional com carimbo e compromisso de pagamento.
Depois, o órgão encomendou novas estampas com anverso padronizado e reverso com
painéis de paisagens em alusão a eventos históricos.
1929 - Crise de 1929
A queda da bolsa de
Nova York atingiu em cheio a economia agroexportadora brasileira e fez desabar
o programa de estabilização de Washington Luís – que, na prática, valia-se da
capacidade brasileira em regular o volume das exportações de café para
equilibrar o câmbio.
1930 - A Revolução de 30
Após a crise de 1929, o período de recessão veio acompanhado
de instabilidade política no Brasil. Naquele momento, o poder atribuído a São
Paulo e a supervalorização da pauta cafeeira deixava insatisfeitos muitos
setores da sociedade, como as camadas médias urbanas, a baixa oficialidade do
exército e algumas oligarquias estaduais. Esse foi o combustível para o
movimento militar que depôs o presidente Washington Luís e levou ao poder uma
junta militar comandada por Getúlio Vargas.
1932 - Uma nova revolução
Em 9 de julho estourou a Revolução de 1932, que colocou as
forças paulistas em guerra com as tropas federais. Para manter as operações de
financiamento do café, até então a cargo do Banco do Brasil, o Tesouro Estadual
passou a emitir uma moeda local sob a forma de bônus do tesouro estadual para
prosseguir nas operações de crédito por meio dos bancos paulistas e viabilizar
as operações militares
Vale 20 pila!
Paralelamente a revolução que estourou em São Paulo, os
partidários de Raul Pilla, no Rio Grande do Sul, organizaram um levante em
oposição a Getúlio Vargas e ao governo estadual. As operações militares foram
financiadas pela emissão de bônus que levavam a assinatura de Pilla e a esses
papéis é atribuída a origem do uso da expressão “pila” para se referir a
dinheiro.
1933 - Passada a tempestade, o cruzeiro
A Crise de 1929 interrompeu o plano de Washington Luís de
reformar o sistema monetário que instituiria o cruzeiro. Marco de um século da
primeira reforma monetária do Brasil, 1933 foi também o ano que encerrou a
recessão. O ministro da Fazenda, Osvaldo Aranha, aproveitou a ocasião para
apresentar ao presidente Getúlio Vargas uma nova proposta para a moeda
brasileira. Ele chegou a encomendar as estampas a diversos fabricantes
estrangeiros.
1942 - De mil-réis para cruzeiro
O padrão cruzeiro foi finalmente instituído em 1942: 1
cruzeiro (Cr$ 1,00) valia 1 mil-réis (1$000), e o centavo era utilizado como
submúltiplo. Enquanto as novas estampas encomendadas à American Bank Note não
ficavam prontas, as notas da 15ª, 17ª e 19ª estampas do padrão mil-réis
receberam um carimbo do novo valor.
1943 - Getúlio Vargas: narrativa em cruzeiros
Getúlio Vargas viu nas novas estampas de cruzeiro uma
oportunidade de construir sua imagem perante a população. A sequência de
estampas, valores, efígies e obras de arte criavam uma narrativa de heróis
dignos do panteão da nação brasileira, no qual Getúlio Vargas surgia como único
personagem vivo, herdeiro daquela tradição. Sua obra, o Estado Novo, foi
retratada como elemento da União Nacional, referência ao papel de Vargas na
reversão da descentralização política, ocorrida após a Constituição de 1891.
1944 - Diversifi¬cação da economia brasileira
A 2ª Guerra Mundial
marcou o início de um período de intenso crescimento da economia brasileira,
devido principalmente à aceleração da urbanização e da industrialização e à
diversificação das exportações. O algodão foi o símbolo da época, contrabalançando
o declínio da cafeicultura.
1961 - A “nota do índio” Esta cédula de 5 cruzeiros marcou a
primeira de impressão moderna da Casa da Moeda do Brasil. Ela ficou conhecida
como “nota do índio”, pois trazia o retrato de perfil de um indígena do lado
direito.
1963- Para frear a inflação
O processo
inflacionário do início dos anos 1960 corroía rapidamente o poder de compra da
moeda brasileira. Mesmo o saque de pequenas quantias exigia o uso de maletas,
uma oportunidade e tanto para assaltantes. Para conter o problema, chegou a se
discutir a criação do “cruzeiro forte”, uma família de moedas que teria valor
liberatório maior do que as notas. O projeto era extremamente polêmico, pois
implicaria a criação de dois padrões diferentes – um para moedas, outro para
notas. Como alternativa, foram criadas as notas de 5.000 cruzeiros, estampadas
com a figura de Tiradentes.
1965 - O Sistema Financeiro Nacional
Entre 1964 e 1965, a criação do Conselho Monetário Nacional
(CMN) transformou o sistema financeiro do Brasil. A entidade tinha como função
formular a política de moeda e crédito. Enquanto isso, a antiga
Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc) foi transformada no Banco
Central do Brasil, com a tarefa de pôr em prática a política definida pelo CMN.
Entre elas, estava a emissão de moedas, que desde 1835 ficara a cargo do
Tesouro Nacional.
1966 - Cortando zeros
Com o avanço da inflação, o cruzeiro perdia rapidamente o
poder de compra. Nas transações comerciais, os algarismos cada vez maiores
dificultavam a mecanização dos processos contábeis – afinal, as calculadoras e
somadoras eletromecânicas conseguiam processar um número limitado de dígitos.
Foi sob esse argumento que, em 1966, foram cortados mais três zeros da moeda
brasileira, dando origem ao cruzeiro novo.
1970- Modernização da
Casa da Moeda Enfim, a Casa da Moeda do Brasil foi modernizada para fabricar
definitivamente o papel-moeda brasileiro. Foram compradas novas máquinas e
incluídos elementos de segurança seguindo padrões internacionais. Além disso, o
novo projeto gráfico equilibrava elementos para uniformizar as diversas
estampas, enquanto se manteve uma identidade própria para cada valor
individualmente.
1978 - Os cartemas de Aloísio Magalhães Desde 1970, o
artista Aloísio Magalhães era responsável pelas estampas das cédulas
brasileiras. Em 1977, apresentou a de 1.000 cruzeiros, a primeira da nova
família dos cruzeiros. O projeto gráfico obedecia ao princípio do cartema,
técnica bastante usada pelo artista que consistia em unir dois ou mais elementos
por meio da colagem, criando uma nova identidade visual.
1984 - O reflexo da abertura política
O período de abertura do regime militar brasileiro foi
marcado, também, por uma drástica transformação no projeto gráfico das cédulas.
Ganhavam espaço temas como as artes e a ciência, enquanto personagens e fatos
políticos se tornavam mais escassos. Na nota de 10.000 cruzeiros, por exemplo,
ainda se vê a imagem de Rui Barbosa, jurista que representou o Brasil na
Segunda Conferência da Paz, realizada em Haia no ano de 1907.
1985 - Nova República no último cruzeiro
A cédula de 100.000 cruzeiros foi a primeira impressa no
governo civil de José Sarney, inaugurando o período da Nova República. Ela
retrata o ex-presidente Juscelino Kubitschek, cuja imagem se opunha à do regime
militar, evocando a ideologia do nacional-desenvolvimentismo por meio de
representações dos investimentos em infraestrutura e da arquitetura de
Brasília.
1986 - Plano Cruzado Uma nova mudança no padrão monetário
ocorreria em 1986 com a implementação do cruzado (Cz$), que passava a valer
1.000 cruzeiros. Inicialmente, o Banco Central aproveitou as cédulas de 10.000,
50.000 e 100.000 cruzeiros que foram carimbadas com os valores de 10, 50 e 100
cruzados, mas, logo em seguida foram impressas novas estampas para os valores
de 500, 1.000, 5.000 e 10.000 cruzeiros, seguindo o mesmo projeto gráfico
iniciado em 1984.
1989 - A chegada do cruzado novo
Com o avanço da inflação, veio mais uma alteração do padrão
monetário no Brasil: o cruzado (Cz$) deu lugar ao cruzado novo (NCz$), que
tinha valor equivalente a 10.000 cruzados. Inicialmente, aproveitou-se as
estampas dos valores de 1.000, 5.000 e 10.000 cruzados novos, que foram
carimbados com os valores de 1, 5 e 10 cruzados novos. Posteriormente, foram
produzidas novas estampas para as notas de 50, 100, 200 e 500 cruzados novos.
1990 - O Plano Collor e a volta do cruzeiro
Durante a implementação do Plano Collor, o padrão monetário
brasileiro passaria por mais uma reforma, voltando a se chamar cruzeiro (Cr$).
Inicialmente, circularam cédulas de 50, 100, 200, 500 cruzados novos carimbadas
com o novo padrão, e a Casa da Moeda emitiu novas cédulas baseadas nos mesmos
desenhos das anteriores. Mais tarde, foram desenvolvidas estampas inéditas para
os valores de 1.000, 5.000, 10.000, 50.000 e 100.000 cruzeiros.
1993 - Cruzeiro real
Já durante o governo de Itamar Franco, a inflação continuava
a corroer o poder de compra da moeda brasileira – e, mais uma vez, a mudança do
padrão monetário foi a solução. Três zeros foram cortados, e a moeda passou a
se chamar cruzeiro real (CR$).
1994 - O real Cédulas da primeira família do real.
Na parte central do anverso, vê-se o valor em numeral
arábico, acompanhado de uma efígie simbólica da República, reproduzida a partir
de uma escultura. No reverso, dependendo do valor, há um animal da fauna
brasileira.
2000 - Cédula em polímero
A primeira família do real ganha uma nova integrante: a
cédula de 10 reais produzida em polímero. Alusiva aos 500 anos da chegada dos
portugueses ao Brasil, a nota traz a efígie do explorador português Pedro
Álvares Cabral no anverso e, no reverso, um painel retratando a diversidade
étnica e cultural do país.
2010 - Segunda família do real
Surgem as cédulas da segunda família do real, mantendo a
temática para os valores da primeira família, apesar de inseridas em um novo
projeto gráfico: a partir de então, foram adotados diferentes tamanhos para
cada cédula, uma forma de promover a acessibilidade de pessoas com deficiência.
2020 - A surpresa do lobo-guará
No início do ano, o Banco Central do Brasil observou um
aumento repentino no uso de dinheiro em espécie. A constatação contrariava a
tendência geral de disseminação de meios eletrônicos de pagamento e foi vista
como um reflexo das incertezas geradas pela pandemia de covid-19. Em momentos
de crise, é comum que pessoas e empresas façam um maior volume de saques para constituir
reserva, reduzindo, assim, a quantidade de dinheiro em circulação. Atendendo à
demanda por papel-moeda, o Banco Central lançou a nova cédula de 200 reais,
desenvolvida a partir de um projeto pré-existente para a nota de 20 reais. O
animal símbolo da nova cédula é o lobo-guará, que ficara em terceiro lugar no
concurso realizado em 2001 para escolher os espécimes da fauna brasileira que
estampariam o dinheiro do país. Os dois animais mais votados naquela ocasião
foram a tartaruga marinha e o mico-leão-dourado, que foram utilizados,
respectivamente, nas cédulas de 2 e 20 reais
Um fraternal abraço a todos
Rudi De Antoni.:
Fonte:
• Catalogo de Papel Moeda Banco Santander.
• História do Dinheiro Banco central do Brasil.
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