1$000 MIL-RÉIS - 1870 - o que nos conta a cédula.

 

Muito além de ter somente valor fiduciário ou de lastro as cédulas contam com outros valores agregados, que na grande maioria das vezes deixamos passar desapercebidos. 

Conforme citação de Alain Jean Costilhes, “toda moeda é […]um documento histórico […] que é preciso saber decifrar para descobrir tudo o que ele pode revelar sobre a realidade do mundo em que foi produzido” (COSTILHES, 1985, p. 8).

Por tanto, moedas e cédulas operam como registros de um tempo e da sociedade a qual pertence, tendo seu alcance naturalmente ampliado dentro do seu território por conta de sua utilização.  

As cédulas e moedas em sua grande maioria foram utilizadas como meio de propaganda, todas cédulas e moedas contam uma história, elas são por si só documentos históricos.

Sob esse prisma, podemos com toda certeza afirmar que o dinheiro, como já foi referido acima, muito além do valor de lastro que tinha antigamente e do fiduciário na atualidade, é tido desde muito tempo atrás como um veículo educativo, doutrinador e propagandista por ser onipresente e de uso impositivo social, devido sua grande abrangência, que alcança até o mais longínquo recanto do seu pais de origem.

 As primeiras moedas tiveram como finalidade retratar impérios ou líderes, mas foram ainda mais efetivas como instrumentos de exercício do poder político e ou religioso.

Por tudo que foi dito acima, vamos analisar uma cédula de 1$000 MIL-RÉIS do ano de 1870, período do segundo Império do Brasil, com base em sua iconografia e período histórico.

Começamos então analisando a própria cédula citada com suas característica e iconografia:

1$000    MIL-RÉIS


ANVERSO: D. Pedro II à esquerda - à direita brasão do Império– ao centro e acima IMPÉRIO DO BRASIL, imagem de uma locomotiva a direita tendo abaixo imagem do que parece ser trigo -  um barco a vapor a esquerda, tendo abaixo um fardo de algodão e um barril -  forma circular com paisagem do pão de açúcar ao fundo com palmeira a frente. A baixo 1UM1- UM MIL.REIS.

REVERSO: Ao centro IMPÉRIO DO BRASIL – 1 a direita e a esquerda dentro de rosáceas.

CARACTERÍSTICAS

Largura: 168 mm

Altura: 72 mm

Emissor: American Bank Note Co.

Fabricante: American Bank Note Co.

SÉRIES 

de

a

estampa

ano

Chancela 1

Chancela 2

1

60

5a.

1870

Autografada

Autografada






ANVERSO: D. Pedro II à esquerda - à direita brasão do Império– ao centro e acima IMPÉRIO DO BRASIL, imagem de uma locomotiva a direita tendo abaixo imagem do que parece ser trigo -  um barco a vapor a esquerda, tendo abaixo um fardo de algodão e um barril -  forma circular com paisagem do pão de açúcar ao fundo com palmeira a frente. A baixo 1UM1- UM MIL.REIS.


Após atentarmos aos detalhes da iconografia da cédula, começa a ficar clara a mensagem que ela quer passar.
Sem muito esforço já identificamos ao centro o pão de açúcar que fica localizado no Rio de Janeiro, capital do Império do Brasil. Está imagem apesar de ser uma paisagem, serve para mostrar onde está o poder no Brasil, para que ninguém tenha duvida de onde vem os investimentos. 
O investimentos estão contidos no restante da imagem, investimento em transporte e escoação de produção agrícola e ou industrial, locomotiva a vapor, barco a vapor.


Temos destacado no quadro a baixo as despesas econômicas do governo imperial, por itens e datas.

As despesas relativas ao Ministério dos Negócios do Império são os seguintes itens Obras Públicas, Correios e Telégrafos, Navegação a Vapor e   Estradas de Ferro.

Com a criação do Ministério dos Negócios da Agricultura em 1860, Comércio e Obras Públicas, passaram à alçada desse ministério.

  

Despesas econômicas, por Itens, Brasil, 1865-1881 (%)

Vamos nos ater ao ano de 1870-71 que é o ano da cédula que estamos analisando.

Anos

Estradas

de Ferro

 

Navegação

a Vapor

 

Correios e

Telégrafos

 

Obras

Públicas

 

Outros

Total

1865-66

23,67

20,91

10,66

29,86

14,9

100,00

1870-71

51,17

11,44

6,32

19,61

11,46

100,00

1880-81

48,53

7,85

8,38

22,32

14,05

100,00

Fonte: Balanço da Receita e Despesas do Império. Cf: CARVALHO, 1996: 400

Conforme o quadro acima 62,61% do orçamento previsto para os gastos públicos do Ministério dos Negócios do Império entre os anos 1870 e 1871, foram utilizados com a navegação a vapor e estradas de ferro.  Então nada melhor do que fazer a propagando do que está sendo feito, por tanto, na época nenhum outro meio teria o mesmo alcance de comunicação que as cédulas oficiais. 

Estradas de Ferro 

Por volta de 1870 a 1930, as ferrovias brasileiras foram as responsáveis principais pelo escoamento da produção agrícola brasileira, sobretudo o café, do interior para os portos e dali articulando-se com a navegação de longo curso. 

No sul do país, as primeiras ferrovias foram construídas nas décadas de 1870 e 1880. No Rio Grande do Sul a primeira ferrovia foi inaugurada em 1874, ligando Porto Alegre a São Leopoldo.

No Paraná, a primeira ferrovia construída foi a ligação entre Curitiba e Paranaguá, construída pelos Irmãos Rebouças que sobrepuseram a Serra do Mar e a Estrada de Ferro Paraná inaugurou a linha em 1885.

 

Navegação a vapor (Companhia Pernambucana de Navegação a Vapor)

 

A navegação representou o principal meio de transporte e circulação das mercadorias entre as capitanias, posteriormente províncias brasileiras.

A navegação a vapor desenvolveu-se no Brasil, ao longo do século XIX, contribuindo para modernizar as estruturas da sua economia e dinamizá-la.

“De modo geral, as companhias de navegação a vapor instituídas durante o Oitocentos, além de incrementarem a circulação de pessoas e mercadorias no território brasileiro, foram agentes da integração política e administrativa entre as províncias, fortalecendo inclusive os laços das autoridades locais com a capital do Império, “a fim de subordinar as províncias à administração central” (El-Kareh, 2012, p. 18).

Ao longo da década de 1870, foi ampliada a gama de serviços prestados pela Companhia Pernambucana. De acordo com os termos do acordo firmado entre a empresa e a Diretoria Geral dos Correios, a companhia passou a transportar malas dos correios entre as províncias que abrangiam sua área de atuação. Tal acordo foi ratificado pelo Decreto n° 4.944, de 30 de abril de 1872, que ainda acrescentou às obrigações da Companhia, o transporte dos dinheiros do Estado. 

No relatório da presidência da Província de Pernambuco de 1875 encontram-se informações sobre a situação da empresa naquele período. A companhia contava com sete vapores de diferentes tonelagens e calados. Realizava 48 viagens redondas anuais e doze à ilha de Fernando de Noronha. Em termos de capacidade de transporte, embarcou durante o ano 5.859 passageiros, além de transportar mais de 8.000 contos de réis em mercadorias e 2.000 contos de réis em dinheiro e moedas. (Pernambuco, 1875, p. 136)

 

É incrível a quantidade de informações que uma cédula pode nos trazer quando resolvemos nos aprofundar no seu valor histórico.

 

Um fraternal abraço a todos

Rudi de Antoni

 

 

Fontes:

* Os primórdios da navegação a vapor no Brasil: cabotagem e privilégios - Bruna Dourado

 

*Cédulas do Brasil

http://www.moedasdobrasil.com.br/moedas/c_catalogo.asp?s=7&c=103

 

*Transporte ferroviário no Brasil

https://pt.wikipedia.org/wiki/Transporte_ferrovi%C3%A1rio_no_Brasil


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