Casas da Moeda um breve resumo.
Um dos símbolos da soberania na Idade Média, pois cunhar
dinheiro era prerrogativa real, as Casas da Moeda chegaram cedo ao Brasil,
antes mesmo da Independência. O Ciclo do Ouro precipitou a cunhagem de moeda
metálica, com o duplo objetivo de fornecer meio circulante á colônia e de
arrecadar tributos como a Senhoriagem e a Braçagem. Antes mesmo de se iniciar o
Ciclo do Ouro, a Coroa Portuguesa, por volta de 1644, determinou a criação de
uma Casa da Moeda em São Paulo, para aproveitar o metal ali extraído. Nomeou
funcionários, expediu regimentos e tomou outras medidas para estabelecê-la, mas
até hoje não se conhece nenhum exemplar de moeda que sido cunhado nela. Nos
anos que se seguiram, a Coroa criou diversas oficinas monetárias na Bahia,
Pernambuco, Rio de Janeiro e São Vicente, para recunhar moedas já em circulação
(veja OFICINAS MONETÁRIAS). Com a descoberta do ouro em Minas Gerais, a
abundância do metal justificou a criação, em 1694, de uma casa da moeda na
Bahia, posteriormente transferida para o Rio de Janeiro e depois para
Pernambuco (de onde voltou para o Rio de Janeiro em 1702). Em 1714 instalou-se
novamente uma casa da moeda na Bahia; outra foi implantada em Vila Rica em
1725. Assim, três casas existiram simultaneamente nessa ocasião. Mais tarde,
criaram-se outras em Goiás e em Cuiabá, mas a primeira nunca se instalou e a
segunda teria sido mera oficina da Casa de Fundição, incumbida de remarcar
moedas espanholas. Depois da Independência, foi criada uma casa da moeda em
Cachoeira, na Bahia, para atender às forças brasileiras, que tinham nessa vila
o seu centro de operações contra as tropas portuguesas aquarteladas em
Salvador. A princípio, as Casas da Moeda eram dirigidas por um Provedor e por
um Superintendente. Mais tarde, por volta de 1725, desapareceu a figura do
Superintendente. E, no final do Império, o cargo de Provedor foi transformado
em Diretor. O pessoal das casas da moeda incluía tesoureiros, escrivães,
fundidores, cunhadores, ensaiadores, guarda-cunho, abridor de cunho, juiz da
balança, fiéis do ouro e da prata, além de meirinhos e outros auxiliares. A
esse pessoal acresciam os chamados "moedeiros do número",
comerciantes e cidadãos abastados, que tinham a obrigação de servir uma vez por
ano como "moedeiros da semana", incumbidos, possivelmente, de funções
meramente fiscalizadoras. Eram repartições internas da Casa da Moeda a Casa das
Feituras, a Casa das Fieiras, e a Casa do Cunho. Segundo Cléber Baptista
Gonçalves, modernamente, se considera que a reunião das oficinas de fundição,
laminação, corte, gravura e cunhagem caracteriza uma Casa da Moeda. Quando só
uma ou algumas delas estão presentes, o que existe é uma mera oficina
monetária.
Casa da Moeda - BAHIA
- Criada em 8 de março de 1694, para cunhar moeda provincial
para o Brasil, uniformizando-a e ampliando o meio circulante. O Rei de Portugal
abriu mão da Senhoriagem, tributo a ele devido, para facilitar o seu
funcionamento, e determinou que a Casa da Bahia seguisse o regimento da Casa da
Moeda de Lisboa, no que fosse possível. Era dirigida por um Provedor, também
Juiz da Casa da Moeda, que seria substituído nos impedimentos pelo Escrivão da
Receita. A Casa da Moeda da Bahia foi instalada na Praça do Palácio, na Cidade
Alta, no local onde fora a Alfândega, em prédio adaptado. As primeiras moedas
ficaram prontas em 5 de janeiro de 1695. Sua letra monetária era "B".
Em 1698 a Casa da Moeda encerrou suas atividades na Bahia, transferindo-se para
o Rio de Janeiro. Só foi restabelecida em 1714, mas desta vez com a cobrança da
Senhoriagem. Funcionou durante mais de um século, encerrando suas atividades em
1830 e sendo formalmente extinta em 1834. Em 1803 tinha-se chegado a determinar
sua mudança para Goiás, mas isso não ocorreu. O prédio que a abrigava acabou
por ser demolido no século XIX, construindo-se em seu lugar uma biblioteca
pública.
Casa da Moeda - CUIABÁ
- Segundo alguns, não passou de uma mera oficina monetária,
apensa à Casa de Fundição daquela cidade. Mas, ela não se limitava a recunhar
moedas já existentes; produziu numerário novo, de cobre, marcado com a letra
monetária "c". Sua duração também foi bastante longa, havendo
documentos sobre sua existência datados de 1753 e 1833. Provavelmente
acompanhou a mudança da administração de Cuiabá para Vila Bela da Santíssima
Trindade de Mato Grosso, em 1772. Nesse caso, teria retornado a Cuiabá em 1819.
Em 1828 ainda contava com 10 funcionários e era separada da Casa de Fundição.
Casa da Moeda - MINAS GERAIS
- Instituída por Carta Régia de 19 de março de 1720, em Vila
Rica, atual Ouro Preto-MG. Sua letra monetária era "M". Foi instalada
no morro de Santa Quitéria, numa casa modesta "de pau a pique",
começando a cunhar em 1/2/1725. Funcionou poucos anos, pois a Carta Régia de 18
de julho de 1734 ordenou que ela encerrasse as atividades, o que ocorreu no ano
seguinte. O prédio que ocupava sofreu várias remodelações, sendo aproveitado
depois como Palácio dos Governadores. Hoje, aloja a Escola de Minas de Ouro
Preto.
Casa da Moeda - PERNAMBUCO
- A Casa da Moeda, que em 1698 viera transferida da Bahia
para o Rio de Janeiro, foi removida, em 1700, para Pernambuco. Iniciou suas
atividades em 13 de outubro de 1700, cunhando moedas de ouro e prata, usando a
letra monetária "P". Por Carta Régia de 31 de janeiro de 1702,
determinou o Rei o encerramento das atividades da Casa em Pernambuco, a qual em
12 de outubro desse ano retornou ao Rio de Janeiro. A Casa da Moeda de
Pernambuco estivera alojada em Recife, no prédio da antiga Oficina Monetária de
Recunhagem, pertencente a Antônio Fernandes de Matos, que a reformou e colocou
à disposição do governo.
Casa da Moeda - SÃO PAULO
- A mais discutida, talvez nunca tenha existido
efetivamente; mas, se existiu, tem a primazia entre todas. Não se pode duvidar
da sua criação, por volta de 1644; abundante documentação reunida por Afonso de
E. Taunay o comprova. A grande questão que se levanta é se ela chegou a
"bater" (cunhar) moeda nova. Teria sido ela uma mera oficina
monetária? Ou uma casa da moeda que nunca se instalou? Sabe-se muito sobre ela,
inclusive os nomes, os cargos e os atos de nomeação de seus funcionários.
Conhece-se também o tipo de moeda que ela deveria fabricar: o "São
Vicente", moeda de ouro, nos valores de 750, 1500 e 3000 réis. Moedas
desse tipo são descritas no inventário de Lourenço Fernandes, um mascate
carioca falecido em São Paulo, em 1646. Teriam sido cunhadas em São Paulo? Se
assim fossem, teriam as letras monetárias "SP". Enquanto não se
localizar uma moeda dessas, porém, a dúvida continuará pairando: existiu uma
casa da moeda em São Paulo? De qualquer forma, a Casa da Moeda não durou muito,
desaparecendo por volta de 1650. Deixou aberta, entretanto, uma interrogação a
ser respondida por nossos historiadores e numismatas.
Casa da Moeda - RIO DE JANEIRO
- A Casa da Moeda da Bahia foi transferida para o Rio de
Janeiro em 1698, em obediência à Carta Régia de 12 de janeiro desse ano. Em
1700 foi novamente removida, desta vez para Pernambuco, mas em 1702 estava de
volta ao Rio de Janeiro. E até hoje, quase três séculos decorridos ainda está
na "cidade maravilhosa", conservando o mesmo nome e as mesmas atribuições.
Em 1698, a Casa da Moeda, vinda da Bahia por mar, com seu pessoal e
ferramentas, foi instalada na rua Direita, atual Primeiro de Março, no prédio
dos armazéns da Junta de Comércio, nas proximidades da ladeira de São Bento. Ao
voltar de Pernambuco, em 1702, novamente se instalou no mesmo local. Sua letra
monetária era "R". Junto com a Casa da Moeda, usando seu pessoal e
instalações, estabeleceu-se, em 1703, uma Casa dos Quintos, para arrecadar o
tributo daqueles que não quisessem trocar seu ouro por moedas. Tornando-se
inadequadas as dimensões do prédio da Junta do Comércio, a Casa da Moeda
transferiu-se para duas casas dos frades carmelitas, no Terreiro do Carmo, hoje
Praça XV. Isso ocorreu por volta de 1707. Nas invasões francesas, a Casa da
Moeda foi afetada de formas diversas. Em 1710, travou-se nas suas proximidades
a principal batalha; vencidos os invasores, parte dos prisioneiros foi
recolhida à cadeia existente na Casa da Moeda. Na invasão de Duguay-Trouin, em
1712, a Casa da Moeda foi obrigada a pagar a avultada soma de 110:077$600
(cento e dez contos, setenta e sete mil e seiscentos réis), como parte do
resgate da cidade. Além disso, foi pesadamente bombardeada, ficando
inutilizadas as suas oficinas, o que a obrigou a suspender os trabalhos por
muitos meses. Em 1743, o Conde de Bobadela, Gomes Freire de Andrade, edificou
no local um novo prédio, o imponente Palácio dos Governadores. A Casa da Moeda
ficou ocupando uma parte do térreo, voltada para a rua Direita. Já no século
XIX, em 1814, a Casa da Moeda mudou-se para o antigo rudimento de museu de
história natural, na rua do Sacramento, a famosa "Casa dos Pássaros",
que compartilhou com o Erário Régio. No período em que esteve na rua do
Sacramento, a Casa da Moeda emitiu, pela primeira vez na América, selos
postais, os célebres "olhos de boi". Nesse edifício, a Casa da Moeda
ficou até 1868, quando foi removida para o prédio próprio, especialmente
construído para ela na Praça da Aclamação, hoje Praça da República. E ali ficou
por mais de um século até 1983, quando foi removida para o Parque Industrial
Santa Cruz, onde dispõe das melhores instalações possíveis.
Um Fraternal abraço a todos.
Rudi De Antoni.:
IMAGEM:
Prédio que sediou a Casa da Moeda do Brasil no Rio de
Janeiro entre 1868 a 1984. Atualmente, sede do Arquivo Nacional.
FONTES:
• Site da Receita Federal- Casa da Moeda-
http://www.receita.fazenda.gov.br/.../letrac/casadamoeda.htm
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