Castro Alves a magnifica medalha Dupla- Medalha e Selo relativos ao Centenário de sua morte

 



No ano em que completava 150 anos de idade em 1997, a Casa da Moeda do Brasil emitiu uma medalha dupla, articulada. 

Que em meu ponto de vista está entre as mais bonitas medalhas cunhadas de 1997 até hoje.

A medalha em homenagem a o poeta baiano Castro Alves um dos principais abolicionistas brasileiros, que em sua obra magna, o poema Navio Negreiro, retrata os horrores do comércio transatlântico de negros escravizados, da África para o Brasil.

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ANVERSO: Efígie do homenageado, com manuscrito de suas poesias, ao fundo.

Legenda: Castro Alves 1847/1997

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REVERSO: Imagem de navio negreiro e seu rastro de espumas flutuantes, representando obra do poeta. Abaixo, à direita, pena do poeta formando uma pomba da paz. Trecho do célebre poema NAVIO NEGREIRO.

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ANVERSO E REVERSO INTERNOS: Composição com os escravizados, acorrentados e sobrepujados, no porão do navio negreiro.


Gravador: Luciano Araújo

Cunhagem: Casa da Moeda

Metal: Bronze

Dimensão: 60mm

Peso: 260g

Como já havia afirma acima, considero uma das mais bela das medalhas cunhadas no Brasil dos anos 1990 até hoje, se não a mais bela.   

Está medalha dupla, tendo suas duas partes unidas por um pino de bronze, tendo nos reversos a representação o porão do navio negreiro. Pois, ficam na parte interna da medalha, significando toda a obscuridade do ambiente em que os escravizados eram transportados.

 

Centenário de nascimento em 1947 de Castro Alves

1947 foi o ano do centenário de nascimento do poeta, e vários eventos em sua memória ocorreram, sobretudo na Bahia e no Rio de Janeiro, então Distrito Federal.

No ano anterior o governo federal realizou um concurso para o projeto de estampa dos correios comemorativa ao centenário no ano seguinte, do qual foi vencedor o desenhista Alberto Lima.

O desenhista Alberto Lima, autor do selo que comemorou o centenário do poeta.

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O Ministério da Educação e Saúde conferiu medalhas trazendo a efígie do poeta na frente, e atrás os versos de sua autoria: "«Auriverde pendão da minha terra, / Que a brisa do Brasil beija e balança, / Estandarte que à luz do sol encerra / As promessas divinas da esperança»…", obra do gravador L. Campos.

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O Ministério realizou, ainda, no Rio de Janeiro, uma Exposição Comemorativa do Centenário de Castro Alves, tendo direção de Augusto Meyer e iniciada no dia 14 de março.

A prefeitura do Rio instituiu, no mesmo ano, concurso de redações em várias categorias, como a melhor biografia do poeta ou romance que fosse ambientado em algum momento de sua vida.

Em Salvador houve uma grande programação de eventos, que transcorreram de cinco e quinze de março de 1947, que foram de palestras, concurso literário pela Academia de Letras da Bahia e encontro de Academias de Letras, exposição biobibliográfica pelo Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e finalmente encerrada com um baile de gala no Clube Bahiano de Tênis. Foi representante da ABL no evento o baiano Pedro Calmon.

 A Academia Brasileira por sua vez efetuou conferências sobre o escritor, dentre outros por seus imortais Clementino Fraga e Pedro Calmon, campanha para a construção de monumento ao poeta, exposição biobibliográfica nos salões do Petit Trianon, sua sede.

 

 

Biografia de Castro Alves

Castro Alves nasceu em 1847re faleceu em 1871 aos 24 anos de idade, foi um poeta brasileiro, representante da Terceira Geração Romântica no Brasil.

O Poeta dos Escravos expressou em suas poesias a indignação aos graves problemas sociais de seu tempo. É patrono da cadeira n.º 7 da Academia Brasileira de Letras.

Infância e juventude

Antônio Frederico de Castro Alves nasceu na vila de Curralinho, hoje cidade de Castro Alves, Bahia, em 14 de março de 1847. Era filho de Antônio José Alves, médico e também professor, e de Clélia Brasília da Silva Castro.

Em 1854, sua família mudou-se para Salvador, pois seu pai foi convidado para lecionar na Faculdade de Medicina. Em 1858 ingressou no Ginásio Baiano onde foi colega de Rui Barbosa.

Demonstrou vocação apaixonada e precoce pela poesia. Em 1859 perdeu sua mãe. No dia 9 de setembro de 1860, com 13 anos, recitou sua primeira poesia em público em uma festa na escola.

No dia 24 de janeiro de 1862, seu pai se casa com a viúva Maria Ramos Guimarães. No dia 25, o casal, o poeta e seu irmão José Antônio partem no vapor Oiapoque para a cidade do Recife onde o jovem iria fazer os preparatórios para ingressar na Faculdade de Direito.

A Faculdade de Direito e as Ideias Abolicionistas

Castro Alves chegou ao Recife numa época em que a capital pernambucana efervescia com os ideais abolicionistas e republicanas. Cinco meses depois de chegar, publicou o poema “A Destruição de Jerusalém”, no Jornal do Recife, recebendo muitos elogios. Na tentativa de entrar na Faculdade de Direito, Castro Alves foi reprovado duas vezes.

No Teatro Santa Isabel, que se tornou quase um prolongamento da faculdade, realizavam-se verdadeiros torneios entre os estudantes. Nesse ambiente, em março de 1863, durante uma apresentação da peça Dalila, de Octave Feuillet, Castro Alves se encanta com a atriz Eugênia Câmara.

Em 17 de maio publica no jornal “A Primavera”, sua primeira poesia sobre a escravidão:

Lá na última senzala,

Sentado na estreita sala,

Junto ao braseiro, no chão,

Entoa o escravo seu canto

E ao cantar correm-lhe em pranto

Saudades do seu torrão.

Um mês depois, enquanto escrevia uma poesia para Eugênia, os sintomas da tuberculose começaram a aparecer. Em 1864 morre seu irmão. Mesmo abalado, é finalmente aprovado no curso de Direito.

Castro Alves participa ativamente da vida estudantil e literária. Publica suas poesias no jornal “O Futuro”. No 4.º número, publica uma sátira à academia e aos estudos jurídicos.

A doença e o caso de amor

No dia 7 de outubro, prova o gosto da morte. Uma dor no peito e uma tosse incontrolável o faz lembrar, da mãe e dos poetas que morreram com a doença. No ímpeto, escreve “Mocidade e Morte”.

Nesse mesmo ano, volta para a Bahia, faltando aos exames e perdendo o ano na faculdade. Em Salvador, na casa da Rua do Sodré procura repousar. Em março de 1865 ele retorna ao Recife e ao curso de Direito. Isolado no bairro de Santo Amaro, vive com a misteriosa Idalina.

Ao visitar o amigo Maciel Pinheiro, condenado à prisão escolar, no térreo do Colégio das Artes, por haver criticado a academia em um artigo no Diário de Pernambuco, escreve o poema “Pedro Ivo”, exaltando o revolucionário da Praieira e o ideal republicano:

República!... Voo ousado/ Do homem feito condor! Novamente a palavra o condor aparece em sua poesia, simbolizando a liberdade. Mais tarde, foi chamado de Poeta Condoreiro.

No dia 11 de agosto de 1865, na abertura solene das aulas, a sociedade pernambucana se reunia no salão nobre da faculdade para ouvir os discursos e saudações das autoridades, professores e alunos.

Castro Alves é um deles: “Quebre-se o cetro do Papa,/ Faça-se dele uma cruz!/ A púrpura sirva ao povo/ Para cobrir os ombros nus. (...)”. Os mais velhos olhavam admirados e os mais jovens deliravam.

No dia 23 de janeiro de 1866 morre seu pai, deixando cinco filhos menores de 14 anos. A responsabilidade ficou com a viúva e com Castro Alves, agora com 19 anos.

Nessa época, Castro Alves inicia um intenso caso de amor com Eugênia Câmara, dez anos mais velha que ele. Em 1867 partem para a Bahia, onde ela iria representar um drama em prosa, escrito por ele "O Gonzaga ou a Revolução de Minas".

Em seguida, Castro Alves parte para o Rio de Janeiro onde conhece Machado de Assis, que o ajuda a ingressar nos meios literários. Em seguida, vai para São Paulo e conclui o Curso de Direito na Faculdade de Direito do Largo do São Francisco.

Em 1868 rompe com Eugênia. De férias, numa caçada nos bosques da Lapa, fere o pé esquerdo com um tiro de espingarda, resultando na amputação do pé. Em 1870 volta para Salvador onde publica Espumas Flutuantes, único livro editado em vida, onde apresenta uma poesia lírica, exaltando o amor sensual e a natureza, como no poema Boa Noite.

Boa-noite

Boa noite, Maria! Eu vou-me embora.

A lua nas janelas bate em cheio...

Boa noite, Maria! É tarde... é tarde...

Não me apertes assim contra teu seio.

Boa noite!... E tu dizes – Boa noite.

Mas não digas assim por entre beijos...

 

Se a estrela-d'alva os derradeiros raios

Mas não me digas descobrindo o peito,

– Mar de amor onde vagam meus desejos.

 

Julieta do céu! Ouve.. a calhandra

já rumoreja o canto da matina.

Tu dizes que eu menti?... pois foi mentira...

...Quem cantou foi teu hálito, divina!

 

Derrama nos jardins do Capuleto,

Eu direi, me esquecendo d'alvorada:

"É noite ainda em teu cabelo preto..."

 

É noite ainda! Brilha na cambraia

– Desmanchado o roupão, a espádua nua –

o globo de teu peito entre os arminhos

Como entre as névoas se balouça a lua...

 

É noite, pois! Durmamos, Julieta!

Recende a alcova ao trescalar das flores,

Fechemos sobre nós estas cortinas...

– São as asas do arcanjo dos amores.

 

A frouxa luz da alabastrina lâmpada

Lambe voluptuosa os teus contornos...

Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos

Ao doudo afago de meus lábios mornos.

 

Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos

Treme tua alma, como a lira ao vento,

Das teclas de teu seio que harmonias,

Que escalas de suspiros, bebo atento!

 

Ai! Canta a cavatina do delírio,

Ri, suspira, soluça, anseia e chora...

Marion! Marion!... É noite ainda.

Que importa os raios de uma nova aurora?!...

 

Como um negro e sombrio firmamento,

Sobre mim desenrola teu cabelo...

E deixa-me dormir balbuciando:

– Boa noite! –, formosa Consuelo...

 

Castro Alves faleceu em Salvador, no dia 6 de julho de 1871, vitimado pela tuberculose, com apenas 24 anos de idade.

 

Características da Obra de Castro Alves

Castro Alves é a maior figura do Romantismo. Desenvolveu uma poesia sensível aos problemas sociais de seu tempo e defendeu as grandes causas da liberdade e da justiça.

 

Denunciou a crueldade da escravidão e clamou pela liberdade, dando ao romantismo um sentido social e revolucionário que o aproximava do Realismo. Sua poesia era como um grito explosivo a favor dos negros, sendo por isso denominado “O Poeta dos Escravos”.

 

Sua poesia é classificada como “Poesia Social”, que aborda o tema do inconformismo e da abolição da escravatura, através da inspiração épica e da linguagem ousada e dramática como nos poemas: Vozes d’África e Navios Negreiros, da obra Os Escravos (1883), que ficou inacabada.

 

      Navios Negreiros

Era um sonho dantesco... o tombadilho

Que das luzernas avermelha o brilho.

Em sangue a se banhar.

Tinir de ferros... estalar de açoite...

Legiões de homens negros como a noite,

Horrendos a dançar...

 

Negras mulheres, suspendendo às tetas

Magras crianças, cujas bocas pretas

Rega o sangue das mães:

Outras moças, mas nuas e espantadas,

No turbilhão de espectros arrastadas,

Em ânsia e mágoa vãs!

 

E ri-se a orquestra irônica, estridente...

E da ronda fantástica a serpente

Faz doudas espirais ...

Se o velho arqueja, se no chão resvala,

Ouvem-se gritos... o chicote estala.

E voam mais e mais...

 

Presa nos elos de uma só cadeia,

A multidão faminta cambaleia,

E chora e dança ali!

Um de raiva delira, outro enlouquece,

Outro, que martírios embrutece,

Cantando, geme e ri!

 

No entanto o capitão manda a manobra,

E após fitando o céu que se desdobra,

Tão puro sobre o mar,

Diz do fumo entre os densos nevoeiros:

"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!

Fazei-os mais dançar!..."

 

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .

E da ronda fantástica a serpente

        Faz doudas espirais...

Qual um sonho dantesco as sombras voam!...

Gritos, ais, maldições, preces ressoam!

        E ri-se Satanás!...

 

Com “Poeta do Amor” ou “Poeta Lírico”, a mulher não aparece distante, sonhadora, intocada como em outros românticos, mas uma mulher real e sensual. Foi também o “Poeta da Natureza”, como se observa nos versos de “No Baile na Flor” e “Crepúsculo Sertanejo”, onde enaltece a noite e o Sol, como símbolos da esperança e liberdade.

 

Poesias de Castro Alves

·         A Canção do Africano

·         A Cachoeira de Paulo Afonso

·         A Cruz da Estrada

·         Adormecida

·         Amar e Ser Amado

·         Amemos! Dama Negra

·         As Duas Flores

·         Espumas Flutuantes

·         Hinos do Equador

·         Minhas Saudades

·         O "Adeus" de Teresa

·         O Coração

·         O Laço de Fita

·         O Navio Negreiro

·         Ode ao Dois de Julho

·         Os Anjos da Meia Noite

·         Vozes d'África

 

Um fraternal abraço a todos.

Rudi De Antoni.:

 

Fontes:

·         A OUTRA FACE DA MEDALHA-MEMÓRIA E INVISIBILIDADE DE GRUPOS SOCIAIS NA COLEÇÃO DE MEDALHAS DO MUSEU EUGÊNIO TEIXEIRA LEAL EM SALVADOR – BAHIA- Pgs 65e 66 – autor: JOÃO GOULART DE SOUZA GOMES

 

·         Site- e biografia – Biografia de Castro Alves - https://www.ebiografia.com/castro_alves/

 

·        Site Museu das Medalhas Brasileiras – http://www.museudasmedalhas.com.br/search?q=castro+alves

 

·         Site wikipedia- https://pt.wikipedia.org/wiki/Castro_Alves

 

Imagens:

·         Site Museu das Medalhas Brasileiras – http://www.museudasmedalhas.com.br/search?q=castro+alves

 

·         Site wikipedia- https://pt.wikipedia.org/wiki/Castro_Alves


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